VivenLLUT magazine

sábado, 19 de abril de 2008

Passado presente, presente para o futuro . . .

 Quando era criança brincava com meus amigos de bolinha de gude mas nunca ficava horas a fio jogando aquele jogo. Sempre me dava vontade de sair do jogo depois de um tempo, pois não era tão "fissurado" quanto os outros moleques.
Eu viajava nas pipas no céu. Meu pai fazia lindas pipas nas mais diferentes cores e formas geométricas. Brancas com cruzes de malta vermelha, listas diagonais brancas e pretas, faixas coloridas na vertical - geralmente três faixas que pareciam um sorvete napolitano ou uma bandeira italiana, ou francesa e coisa e tal... - e ele "enpinava" as pipas com muita habilidade, junto dos meus tios e amigos que moravam que na mesma rua, num bairro próximo ao centro da cidade. Eu gostava de "enpinar" mas eu também era diferente dos outros moleques. A minha viagem era correr atrás das pipas, as pipas que eram "cortadas"  por outras pipas por causa da cera, ou cerol, feita de cola e vidro esmagado e engomado na linha. Pra mim era o máximo passar por diversos bairros seguindo uma pipa que caía lentamente, levada pelo vento. Eu "viajava" em descobrir lugares de minha pequena cidade, (Que até então, não era tão pequena assim.) "viajava" em conhecer outros moleques, mesmo que brigando por causa das pipas, "viajava" em curtir o sol da tarde e acompanha-las voando sem destino definido em contraste com as nuvens e o azul do céu. Eu fiquei pensando nisso essa semana e refletindo em como o passado pode influenciar o futuro ou dizer para nós, ou para mim, como sempre fomos.
Eu ficava "viajando" em meus livros de animais, lendo a respeito de mamíferos, estranhos anfíbios, peixes monstruosos da zona abissal, lindos insetos e outros bizarros ou nojentos, répteis lindíssimos. (estão entre os que mais gosto) "Viajava" em ficar desenhando no meu quarto-laboratório, cheio de vidros com animais mortos em conserva no álcool e no formol. Animais que eu juntava onde os achasse. Cobras, lagartos, passarinhos, peixes, aranhas, escorpiões, louva a deus (que inseto estiloso!!!) e me esquecia do mundo lá fora, dos jogos de futebol terreno ao lado de casa onde meus amigos jogavam todos os dias, das bolinhas de gude e muitas vezes, até mesmo das pipas. Gostava de ficar sozinho, pensando, criando novos mundos. Tipo um menino louquinho mas que não estava nem com os que faziam apenas o que todos faziam. Refletindo essa semana, percebi pela primeira vez o que sempre esteve na minha cara, claro como o colarinho do chopp que bebia enquanto pensava nisso, como sempre tinha ouvido falar que o passado diz muito sobre o seu presente e pode ajuda-lo a viver seu futuro.
Vejo o passado das pipas em minha busca constante por conhecer novos lugares e pessoas que me façam evoluir como individuo, vejo o passado das pipas nos fundos de desenhos que crio com faixas coloridas que não combinam aos olhos dos outros, vejo o passado dos meus bixos que tendem a aparecer nos dias em que não consigo desenhar coisas novas e ai só me vem a cabeça imagens de insetos transformados em belos, peixes bizarros e outros animais de todas as espécies. Vejo meu passado tão presente que acho que ainda sou um moleque "viajando" em ser diferente das outras pessoas, "viajando" em querer ser verdadeiro, "viajando" em querer ser feliz e fazer feliz, "viajando" em me importar no bem estar através de vida vivida e não vida comprada, "viajando" em trabalhar com honestidade e não "crescer o olho" nos outros (inveja,ganância, mentira...), viajando em ser eu e não no que os comerciais, novelas, jornais da globo e fantástico e tudo o mais insistem em me dizer ser. Como não me "liguei" que quando as pessoas me chamavam de louquinho,ou lokinho, era exatamente como os moleques da minha rua, na minha infância me chamavam. Eu sou o mesmo sempre. Apenas evoluí e crescí(na altura não muito) e no futuro creio que sempre serei o mesmo, valorizando as coisas que são, e as pessoas que querem ser. No futuro talvez ainda esteja sozinho em algum quarto, desenhando e pintando, lendo e escrevendo, criando um mundo que não haja "pilantragem" , mentiras, joguinhos ou absurdos. Criando um mundo só meu mas que poderia ser bom pra alguém também.

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